Cresce no mercado de juros a quantidade de instituições financeiras e consultorias que esperam queda mais acentuada do custo do dinheiro este ano. Bradesco e Standard Chartered estão entre os bancos que reduziram a projeção da Selic - a taxa básica de juros do país. Esses agentes avaliam que o contágio da crise internacional sobre a economia brasileira está sendo mais severo que o estimado.
E por isso, acreditam, o Banco Central vai reduzir o juro abaixo dos 8,5% atuais, com dois cortes de 0,5 ponto percentual cada.
Essa expectativa repercute na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), onde são fechados os contratos que estimam os juros de mercado nos próximos meses. O contrato com vencimento em janeiro de 2013, por exemplo, recuou, de 7,80% para 7,74%. Já o de janeiro de 2017 foi no sentido oposto, subindo de 9,70% para 9,80%, aumentando a diferença entre os juros de curto prazo e as taxas mais longas.
Operadores dizem que o crescimento dessa diferença entre os contratos mais curtos e os mais longos reflete o maior nível de incerteza. O degrau entre o DI janeiro/2014 e o janeiro/2017 subiu de 1,56 ponto percentual na sexta-feira (8) para 1,76 ponto segunda-feira (11).
A explicação para esse movimento - chamado de inclinação da curva de juros, em que as taxas de longo prazo se distanciam mais daquelas de curto prazo - tem a ver com as dúvidas dos investidores sobre o comportamento da economia brasileira e da política do BC nos próximos meses. Segundo operadores, aplicadores estrangeiros estão se desfazendo de títulos públicos federais de longo prazo por causa dessas dúvidas.
O Bradesco cortou a projeção para Selic este ano de 8% para 7,5%. Em boletim assinado pela equipe do diretor de pesquisas e estudos econômicos, Octavio de Barros, o banco aponta que "mesmo destacando o papel da parcimônia na flexibilização da implementação da política monetária, devemos condicionar os próximos passos do BC à recuperação da atividade doméstica, se materializando de forma \'bastante gradual\' e à postergação de uma solução definitiva para a crise financeira europeia".
O Standard Chartered, que também reduziu as projeção para a Selic a 7,5%, aponta em texto assinado por Bret Rosen e Italo Lombardi que a recuperação econômica local está se dando em ritmo mais lento do que o projetado anteriormente.
A MCM Consultores Associados também reduziu para 7,5% a Selic ao fim deste ano, citando como motivo a piora do cenário externo que já vem afetando a confiança do empresariado nacional e a consequente retomada dos investimentos no Brasil.
Há entre os agentes de mercado a avaliação de que qualquer piora no ambiente externo terá impacto mais rápido e relevante sobre o ritmo da economia no Brasil e, por consequência, sobre a política monetária.
Mesmo instituições que não revisaram as projeções da Selic admitem essa possibilidade. O Bank of America Merrill Lynch diz em relatório assinado ontem pelo economista David Beker que a possibilidade de um corte adicional da Selic além da projeção atual da instituição - de 7,75% para a Selic no fim de agosto - "claramente aumentou".
E a LCA, citando o boletim Focus dessa segunda-feira, destacou que a média das projeções para a Selic segue abaixo da mediana, indicando que a taxa básica de juros recuará para 7,81%. E segue lembrando que a projeção mediana de curto prazo sugere que o juro básico recuará para 7,50% até o fim de 2012, ao passo que a mediana de médio prazo indica que a Selic cairá para 7,75%. (Fonte: Valor Econômico)