Diante das evidências de que o crescimento econômico brasileiro neste ano não deve ficar muito acima de 2%, a presidente Dilma Rousseff procurou ontem minimizar a importância do PIB (Produto Interno Bruto), ressaltando que ele não é o indicador mais adequado para comparações internacionais.
"Uma grande nação deve ser medida por aquilo que faz para suas crianças e para seus adolescentes. Não é o Produto Interno Bruto. É a capacidade do país, do governo e da sociedade de proteger o que é o seu presente e o seu futuro, que são suas crianças e seus adolescentes", afirmou, na 9ª Conferência dos Direitos da Criança e do Adolescente.
No mês passado, o tom era outro. Numa cerimônia com atletas que vão participar dos Jogos Olímpicos de Londres, Dilma chegou a dizer que o PIB deste ano vai merecer uma medalha: "Você vai ver se não vai merecer [medalha]. Nós estamos no esquentamento", disse.
O discurso de Dilma desdenhando o PIB veio em um momento em que economistas de dentro e de fora do governo têm revisado para baixo suas projeções de alta do indicador em 2012.
Em junho, o Banco Central reduziu de 3,5% para 2,5% sua estimativa. Nos bastidores, o próprio governo já trabalha com um crescimento de apenas 2% neste ano.
Divulgado ontem, o indicador de atividade econômica do Banco Central, considerado uma prévia do PIB, apontou uma queda de 0,02% em maio em relação a abril.
Apesar de o recuo ter sido menor que o esperado pelo mercado, ele sinaliza que a recuperação da atividade ainda não havia ganhado ritmo. Na comparação com maio de 2011, o indicador teve alta de 1,09%.
RANKING
As comparações do Brasil com outros países em assuntos que afetam diretamente crianças e adolescentes não mostram o país em posições mais vantajosas.
Segundo os dados do Banco Mundial, cerca de 21% dos brasileiros não têm acesso a saneamento básico adequado. O índice é pior que os de países como Costa Rica (5%), Equador (8%) e El Salvador (13%), por exemplo.
Um brasileiro que nasce hoje tem uma expectativa de vida de 73 anos. Um bebê cubano ou chileno viverá seis anos a mais, também de acordo com o Banco Mundial.
Indicadores na área da educação também apontam para um quadro desfavorável para o Brasil na comparação internacional.
A avaliação Pisa, divulgada em 2010, classificou o Brasil em 53º lugar em desempenho em leitura. No ranking de 65 países, o Brasil ficou atrás de Colômbia, Trinidad e Tobago e México.
No Congresso, o governo já afirmou que irá brecar o esforço para tentar dobrar os gastos públicos com educação em dez anos. Prevista em projeto do Plano Nacional de Educação já aprovado em comissão especial da Câmara, a meta de elevar os investimentos no setor para 10% do PIB será vetada por Dilma, caso seja aprovada pelo Congresso. O argumento é que a medida representaria um rombo nas contas públicas.
DESIGUALDADE
No discurso de ontem, Dilma ainda destacou a importância da distribuição de renda: "O Brasil, durante muito tempo, conviveu com uma situação lamentável e terrível. Ser um país com tantas riquezas, formado por um povo tão solidário, mas que uma parte imensa da sua população estava afastada dos direitos e, sobretudo, dos benefícios dessas riquezas e de tudo que esse país pode produzir." FolhaSP