24/02/2010
Desorientada, oposição tenta superar crise do DEM com críticas à Dilma
A prisão do governador afastado de Brasília José Roberto Arruda (ex-DEM) e a cassação do mandato do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), não são os únicos problemas que a oposição enfrenta no início do ano eleitoral. Líderes tucanos e democratas, no entanto, tentam tergiversar sobre a real condição de enfrentamento do bloco conservador às forças de esquerda, reunidas em torno da candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT).
O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), um dos principais articuladores da candidatura do colega paulista, José Serra, à sucessão presidencial, chegou a se dizer "feliz" com o discurso dos petistas, durante a convenção, no sábado, que consagrou a candidatura Dilma. - Li com atenção o discurso da ministra Dilma e fico muito feliz ao ver que ela assume o compromisso de manter a condução macroeconômica do País, com metas de inflação, com juros flutuantes, com superavit primário, construídas e concebidas no governo do PSDB - disse o governador na manhã desta terça-feira (23), recém-chegado de uma viagem de férias ao exterior. Já os presidentes do PSDB, DEM e PPS preferiram criticar o discurso feito por Dilma, pelos mesmos motivos que levaram o político mineiro a elogiar a candidata. Já o governador do estado de São Paulo prefere se manter ocupado com as crises que enfrenta na capital paulista devido às chuvas. Virtual candidato da oposição à sucessão do presidente Lula, Serra procura evitar o confronto aberto com a candidata petista. Ele reiterou que, até o início de abril, fim do prazo para a desincompatibilização estabelecido pela legislação eleitoral, pretende se dedicar exclusivamente ao governo estadual. - O interesse do governo é trazer o Serra para o debate. Não tem por que precipitar, não tem por que entrar em um processo de ansiedade - argumentou o presidente do PPS, Roberto Freire, ao ser procurado por jornalistas, lembrando que o governador paulista mantém a liderança nas pesquisas de intenção de voto mesmo sem ter se colocado publicamente como pré-candidato. Para o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), a cerimônia de lançamento da pré-candidatura de Dilma pelo PT não muda em nada os planos da oposição, uma vez que a ministra já vinha agindo como tal. Já o presidente do DEM, o deputado Rodrigo Maia (RJ) assegurou que o evento promovido pelo PT não gerará tensões na base de apoio a Serra. - Essa questão está bem resolvida. A nossa questão é só esperar março - destacou Maia. O DEM, que enfrenta crises políticas no Distrito Federal e em São Paulo, já esteve dividido entre apoiar Serra ou o também tucano Aécio Neves, governador de Minas Gerais, para a disputa presidencial. Alvo certo O presidente do PSDB avaliou que as falas de Dilma tinham alvo certo. - O PT fez um discurso para os movimentos sociais, que eles perderam em grande parte. A ministra fez um discurso em que deu uma no cravo e outra na ferradura. São os chavões de sempre - comentou, argumentando que Estado forte é aquele que tem agência reguladoras fiscalizadoras, e não politizadas. O presidente do DEM reforçou o coro, dizendo que Dilma utilizou uma estratégia já aplicada pelo PT no passado, que tenta tachar a oposição de privatista. - Não vi nada de novo no discurso, no que ela quer representar ou o que ela diz que a oposição representa - pontuou. Na disputa presidencial de 2006, o candidato derrotado Geraldo Alckmin (PSDB) foi tachado por Lula, então candidato à reeleição, de privatista e não conseguiu se livrar da pecha. Para o presidente do PPS, Dilma não revelou seu projeto para o país. Segundo ele, a defesa de um Estado forte é "vazia" e, no limite, pode gerar governos autoritários. Referindo-se ao colapso da União Soviética, Freire lembrou que no passado a esquerda fortaleceu o Estado como meio para realizar uma revolução, estratégia que foi "derrotada". - A esquerda que há no mundo mais consequente não tem mais essa concepção de idolatria de Estado forte. Na crise (financeira global), o Estado fez o papel próprio do capitalismo, que foi salvar o mercado - acredita o conservador. O PPS sucedeu o Partido Comunista Brasileiro e hoje é aliado das siglas de direita. Risco político O discurso de Dilma também repercutiu entre os analistas do mercado financeiro. A consultoria de risco político Eurasia Group disse em um informe que as declarações sinalizam o que esperar de uma eventual administração Dilma. Na análise, o Eurasia comenta o comprometimento de Dilma, se vencer as eleições, de manutenção da política econômica. "A mensagem é um bom indicativo do que se esperar de sua administração", diz o relatório. Para a MCM, a ministra terá de conter as demandas radicais de alas do PT. "Esse será um constante desafio para Dilma durante a campanha e, caso seja eleita, em seu governo: compatibilizar pragmatismo com a pressão mais esquerdista de amplos setores do PT. Lula soube fazê-lo muito bem. Dilma ainda precisa provar que será capaz de seguir o mesmo caminho", destacou a MCM em comunicado. (Fonte: Correio do Brasil)
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