Apesar da recupera��o da poupan�a, trauma do confisco permaneceu na mem�ria dos brasileiros. A medida foi lembrada pelos partidos da oposi��o em 2009, quando Governo estudava mexer na remunera��o da caderneta, diante da queda na taxa de juros. Planalto percebeu equivoco e recuou

Por Geralda Doca,
Na Ag�ncia O Globo

Abatida pelo confisco do Plano Collor, a poupan�a - a aplica��o mais tradicional, segura e simples do mercado - enfrentou uma onda de saques em 1990. Milhares de poupadores correram para retirar as economias que sobraram na conta (abaixo de NCz$ 50 mil).
Segundo c�lculos da Associa��o Brasileira das Entidades de Cr�dito Imobili�rio (Abecip), o saldo total da caderneta existente em dezembro de 1989 caiu mais da metade em 12 meses: de NCz$ 4,577 bilh�es para NCz$ 2,048 bilh�es, mesmo com a corre��o m�dia anual de 22%.

A contadora Elo�sa Goulart, hoje com 55 anos, foi uma das que correu para sacar o que tinha na poupan�a. Ela precisava dos recursos para pagar os rem�dios de seu marido, j� falecido, que na ocasi�o estava internado. Elo�sa entrou com processo no Banco Central para solicitar a libera��o do dinheiro.
- Foram dois meses at� conseguir a libera��o. Sem o dinheiro, n�o conseguia pagar os rem�dios. Ele estava internado no Fund�o, mas os custos com medicamentos eram por minha conta. Foi muito sofrimento. Muito documento e comprovante. Mas tive que me virar - conta Elo�sa, que passou a pintar cangas e vender camisetas para arcar com as despesas, como a escola particular das tr�s filhas.
Com os saques em massa, o n�mero de casas financiadas pela poupan�a - uma das principais fontes de recursos do setor imobili�rio - caiu de 74.993 para 41.050 unidades um ao depois do confisco. A recupera��o s� veio com for�a ap�s a estabilidade econ�mica, a partir de 1995.
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Fontes afirmam que, apesar do baque, a poupan�a conseguiu recuperar totalmente sua credibilidade entre os brasileiros. Segundo a Abecip, o n�mero de poupadores mais que dobrou em 20 anos: de R$ 30,154 milh�es em junho de 1990 para R$ 69,220 milh�es em dezembro de 2009.

Trazendo a valores presentes, o saldo das cadernetas em 1990 equivaleria a R$ 110,970 bilh�es, segundo a Abecip. H� hoje R$ 258,436 bilh�es depositados na caderneta - o que significa um acr�scimo de R$ 147,5 bilh�es ao longo desse per�odo.

O desempenho da poupan�a nos �ltimos anos teve reflexos na expans�o do cr�dito imobili�rio. O n�mero de unidades financiadas com esses recursos quadruplicou, de 74.993 no fim de 1990 para 302.680 em dezembro �ltimo.

A partir de 2006, o setor passou a bater seguidos recordes, apesar da crise financeira internacional de 2008, que freou a economia brasileira. Al�m da estabilidade econ�mica, o aumento da renda das fam�lias e um marco regulat�rio mais adequado ajudaram a impulsionar os financiamentos habitacionais.
Tamb�m contribu�ram instrumentos como patrim�nio de afeta��o, que separa as contas do empreendimento da incorporadora, e aliena��o fiduci�ria.

Apesar da recupera��o da poupan�a, o trauma do confisco permaneceu na mem�ria dos brasileiros. A medida foi lembrada pelos partidos da oposi��o no ano passado, quando o governo estudava mexer na remunera��o da caderneta, diante da queda na taxa de juros.

Por causa das cr�ticas e do medo de retiradas em massa, o Minist�rio da Fazenda e o Banco Central anunciaram uma proposta de taxar apenas valores acima de R$ 50 mil. No entanto, a complexidade das regras e a compara��o com o confisco em ano eleitoral levaram ao engavetamento do projeto.