04/05/2010
Elogio de Serra a Lula desarma a oposição. Uma tática eleitoral perigosa Compreende-se a estratégia de José Serra de não atacar Lula e o seu Governo em face dos índices de popularidade que os Institutos de Pesquisa - todos eles - assinalam para o presidente da República. Datafolha, Ibope, Vox Populi e Sensus, no caso, coincidem plenamente, concluindo por uma aprovação superior a 70% da população, portanto, é claro, do eleitorado. O ex-governador de São Paulo, assim, reconhece tacitamente que os que atacarem Luiz Inácio perdem votos, sufrágios importantes e fundamentais para as eleições de outubro. Este é um ângulo da questão. Mas existe outro prisma paralelo: maquiavelismo demais na política aberta não funciona, sobretudo na rota das urnas. Em primeiro lugar porque Lula e o PT identificam facilmente a manobra. Em segundo lugar, porque o reflexo na opinião pública só pode prejudicar o autor do movimento de envolver pelos flancos. Ninguém do PT e do sistema governista vai votar em Serra por causa de seu elogio. É claro. Porém muitos eleitores do próprio Serra podem ser desestimulados a prosseguir em sua campanha. Uma fração pequena, por menor que seja, pode-se tornar decisiva no desfecho final. E quando falo em eleitores, incluo os partidos de oposição como o PSDB, DEM e o PPS. Como poderão empenhar-se a fundo na campanha de Serra se o candidato, que deveria representar as oposições unidas, sinaliza destaques para aquele a quem diz combater? Mesmo utilizando a imagem de que é um candidato PÓS Lula, como fez Barack Obama, nos Estados Unidos, colocando-se como um candidato pós questão racial. Mas a situação é diferente. O problema racial americano não tinha aparentemente uma cara, um perfil, uma personificação. Não representava um confronto e sim uma superação. O caso brasileiro é diferente. Trata-se de uma candidatura governista e outra de oposição. Se o oposicionista não faz oposição, o tema confronto sai de foco. Em seu lugar, entra uma visão embaçada de luta que está começando. Sobretudo porque não atacar Lula é uma coisa. Elogiar o adversário, outra muito diferente. Francamente, penso que Serra exagerou na dose. O ex-governador paulista não apenas felicitou Lula diretamente, mas sustentou tratar-se de uma conquista para o Brasil. Dou-lhe meus parabéns - acrescentou. A matéria foi publicada com destaque na edição de O Globo de sexta-feira (30). Aplaudindo Lula pessoalmente, Serra contribuiu para desmotivar ativistas de sua campanha, o que pesou, negativamente para ele, junto à opinião pública. Pois não se assume o papel de candidato das oposições coligadas, para que disputar a presidência como se fosse? Isso de um lado. De outro, este reflexo ele não poderia prever, que o pronunciamento de Lula em rede nacional de televisão pela passagem do Primeiro de Maio teve como um dos pontos básicos a continuidade administrativa. Portanto, a continuidade de seu Governo. Nesse momento é que Serra elogia Luis Inácio da Silva? Era o menos indicado, por ironia do destino, pois se Lula é parabenizado por se incluir entre as 25 personalidades mais influentes do mundo, indiretamente Serra realçou essa influência inevitavelmente no destino das próximas eleições. Descaracterizando esta dualidade eterna, Serra, além do mais, forneceu argumento sólido ao presidente da República para se empenhar por sua candidata, sem ser assediado pelas oposições. Está agora, com a firma da Revista Time reconhecida por Serra, com mais e novas condições de influir. Serra errou. Não atacar é uma coisa. Elogiar é outra. Muito além da lógica política que sempre existe. Fonte: Tribuna da Imprensa
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