Tratado como se estivesse entre amigos - e estava - o candidato do PSDB � Presid�ncia da Rep�blica, Jos� Serra (PSDB) participou, nesta quarta-feira (11), da rodada de entrevistas com os presidenci�veis do Jornal Nacional, da Rede Globo.

Sem ser confrontado pelos entrevistadores, Serra conseguiu se mostrar elegante na forma, mas no conte�do sua participa��o foi marcada por um discurso repleto de mentiras e meias-verdades (veja a lista no final desta mat�ria).

Na bancada do JN, Serra tenta cal�ar as "sand�lias da humildade", mas o tempo � curto e ele n�o consegue concluir a mensagem

Apesar da colher de ch� que os entrevistadores deram ao candidato para expor suas id�ias sem muitos questionamentos, Serra derrapou no final, quando tentou deixar sua mensagem alinhada com a nova estrat�gia de campanha - a de se distanciar da elite e se mostrar como o candidato dos pobres. Ele enrolou na resposta e acabou sendo cortado.

No in�cio da entrevista, ao ser questionado sobre o fato de estar poupando o presidente Lula de cr�ticas na campanha, Serra desconversou, disse que Lula n�o � candidato, portanto n�o � seu advers�rio, e tentou desqualificar a candidata do PT.

Sem citar o nome de Dilma, disse que n�o se pode \'governar na garupa\', insinuando que a ex-ministra, caso seja eleita, faria um governo monitorado pelo atual presidente. A declara��o de Serra pode ter gerado a manchete que a m�dia queria, mas � uma afirma��o potencialmente arriscada para o tucano.

Com a popularidade do governo nas alturas, uma parte consider�vel do eleitorado que aprova o presidente Lula pode estar buscando justamente uma candidatura que "ande na garupa" de Luiz In�cio. E esta candidata � Dilma, n�o Serra.

Na �nica pergunta que parecia mais constrangedora para Serra, Willian Bonner questionou o tucano sobre a alian�a com o PTB, numa clara manobra para voltar a falar do "mensal�o do PT".

N�o precisa ser jornalista nem analista pol�tico para saber que houve, nesta pergunta, uma clara inten��o de poupar o candidato tucano do desconforto de ter que justificar sua alian�a com o DEM, que protagonizou um "mensal�o" muito mais recente e constrangedor, que foi o esc�ndalo envolvendo o governador Jos� Roberto Arruda, do Distrito Federal.

Tamb�m n�o se questionou o tucano sobre o "mensal�o" mineiro protagonizado por ningu�m menos que o ex-presidente do PSDB, Eduardo Azeredo. Privatiza��es, rela��o com movimentos sociais, atritos com aliados... foram outros temas espertamente descartados da sabatina.

Tucano assume que n�o trabalhou direito
Ao falar sobre os caros ped�gios cobrados em S�o Paulo, Serra entrou em contradi��o. Disse que se "trabalhar direito" d� para fazer estradas boas sem cobrar tarifas elevadas de ped�gio. Neste momento, um entrevistador atento e isento teria perguntado: ent�o por que seu governo n�o fez isso em S�o Paulo? O senhor "n�o trabalhou direito"?

Mas a conversa do casal global com o candidato tucano n�o previa confronta��es. Estava tudo dentro do script tra�ado pela fam�lia Marinho para alavancar a candidatura "da casa" e n�o cabia ali desautorizar o "mais preparado dos homens p�blicos".

Palocci: o inocente �til do Serra
Durante a entrevista, mais uma vez, tal como fez no debate da Bandeirantes, Jos� Serra citou o nome do ex-ministro Antonio Palocci, repetindo que o petista "n�o cansava de elogiar o governo Fernando Henrique" quando foi ministro da Fazenda no primeiro mandato do presidente Lula.

A afirma��o recorrente de Serra tem dois objetivos: constranger a candidata do PT, Dilma Rousseff - j� que Palocci � um dos coordenadores de sua campanha-- e minimizar as cr�ticas ao governo Fernando Henrique.

Pior do que ouvir tal afirma��o vinda de Serra � saber que Antonio Palocci n�o se digna a responder ao tucano. A carapu�a lhe serve, portanto n�o questiona o uso pol�tico que Serra faz de seu nome em preju�zo da candidata da qual � coordenador de campanha.

Tivesse um pouco mais de dignidade, Palocci no m�nimo utilizaria seu espa�o cativo nas colunas de bastidores dos jornais para desautorizar o tucano. Mas como n�o responde, acaba fazendo o papel de "inocente" �til num tema que � crucial para a campanha petista: a compara��o entre os governos FHC e Lula.

Sand�lias da humildade
Serra tentou, ao final da entrevista, emplacar sua nova estrat�gia de campanha. Mudar a imagem de candidato da elite e cal�ar as "sand�lias da humildade" para se mostrar como o homem de origem pobre que venceu na vida estudando e ajudando o povo.

Serra queria dizer que ia governar para os pobres e n�o apenas para os ricos. Mas n�o deu tempo. Por mais cordial que Bonner tenha sido com Serra, n�o dava para deixar o entrevistado surrupiar minutos a mais que o tempo previsto para a entrevista.

Mentiras e meias-verdades
A �ntegra da entrevista de Serra, assim como a de Dilma e Marina, est�o facilmente dispon�veis na internet. N�o � preciso detalhar o que o entrevistado disse ou como disse. Mas � imprescind�vel apontar as contradi��es e inverdades contidas em suas declara��es.

At� por que, s�o declara��es recorrentes, argumentos que o tucano tem utilizado com frequ�ncia e, que se n�o forem devidamente combatidos e esclarecidos, podem atravessar toda a campanha eleitoral travestidos de verdade.

Numa r�pida an�lise da entrevista de 12 minutos ao Jornal Nacional, podemos detectar pelo menos 12 quest�es levantadas por Serra que n�o correspondem � realidade. Especialistas em cada assunto poder�o encontrar v�rias outras. Abaixo, um resumo das "mentiras por minuto" que Serra contou aos telespectadores do telejornal de maior audi�ncia da televis�o brasileira.

1. Fiz os gen�ricos...
Parece uma constante na biografia de Jos� Serra a sua pretens�o de autoria sobre programas que ele n�o criou, apenas regulamentou. A hist�ria da legisla��o dos gen�ricos no Brasil inicia-se pelo ent�o deputado federal Eduardo Jorge, em 1991, quando apresentou o Projeto de Lei 2.022, que planejava remover marcas comerciais dos medicamentos.

Em 1993, foi publicado pelo ent�o presidente Itamar Franco, que tinha como ministro da Sa�de Jamil Haddad, o Decreto 793, que instituiu a pol�tica de medicamentos gen�ricos.

Portanto, quando Serra assumiu o Minist�rio da Sa�de, no governo FHC, o programa de medicamentos gen�ricos j� era uma realidade. Serra e FHC apenas revogaram o decreto anterior na �ntegra e fizeram uma Lei (9.787/99) e um novo decreto (3.181/1999) com muitas concess�es ao lobby da ind�stria farmac�utica.

2. Fiz a campanha da aids...
O mesmo embuste dos gen�ricos, Serra aplica em rela��o ao programa de combate � Aids. Na verdade, o tucano, por uma estrat�gia de marketing, assume como se fosse dele um programa que � anterior � sua gest�o no Minist�rio. Saiba mais aqui

3. A sa�de, nos �ltimos anos, n�o andou bem
Serra tenta generalizar para n�o reconhecer que a situa��o hoje � melhor que no governo passado. A sa�de continua com problemas, � �bvio, sobretudo no atendimento de urg�ncia e emerg�ncia de hospitais do pa�s.

Mas nos �ltimos anos, houve melhoras significativas em quase todas as demais �reas da sa�de. No governo Lula diminuiu sensivelmente a mortalidade materna e a mortalidade infantil. O Brasil est� entre os 16 pa�ses em condi��es de atingir a quarta meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Mil�nio nestas quest�es.

O governo Lula instalou e ampliou programas important�ssimos que n�o existiam ou estavam subutilizados na gest�o de Serra ministro, como o Farm�cia Popular, Brasil Sorridente, Sa�de da Fam�lia - o financiamento do programa foi triplicado entre 2002 e 2008, passando de R$1,3 bilh�o para R$ 4,4 bilh�es - Samu 192 -ao qual SP se nega a aderir at� hoje-, PAC da Sa�de, UPA 24h, Olhar Brasil, Doa��o de �rg�os, Bancos de Leite Humano, QualiSUS (fortalecimento do SUS, que os tucanos boicotam), mais investimentos na Pol�tica de Sa�de Mental, etc.

Todo este avan�o ocorreu mesmo com o fato da oposi��o, incluindo o DEM e o PSDB, ter votado pelo fim da CPMF, que destinava recursos para a sa�de. Tamb�m � preciso frisar que nem todas as a��es dependem da Uni�o. Governos estaduais e munic�pios t�m ampla participa��o na gest�o da sa�de. Serra tamb�m n�o conseguiu resolver os problemas na sa�de p�blica de S�o Paulo quando foi prefeito, nem quando foi governador.

4. Muita preven��o que se fazia acabou ficando para tr�s
Mentira pura de Serra. O governo federal manteve e ampliou todas as campanhas de vacina��o existentes e ainda incluiu novas vacinas no calend�rio oficial. Desde 2004, o Minist�rio da Sa�de adota tr�s calend�rios obrigat�rios de vacina��o: o da crian�a, o do adolescente e o do adulto e idoso. O programa de preven��o �s endemias funciona bem, ao contr�rio do que acontecia no governo Fernando Henrique. Quando Serra ainda era ministro da Sa�de, o Brasil sofreu com uma terr�vel epidemia de dengue, ao ponto do tucano ter sido apelidado de "ministro da dengue".

5. O Roberto Jefferson conhece muito bem o meu programa de governo
Nem Roberto Jefferson nem nenhum outro aliado do tucano conhece o "programa de governo" de Serra porque ele simplesmente n�o existe. Quando foi entregar o seu "programa" no TRE, a campanha tucana protocolou a transcri��o de dois discursos de Serra, e disse que aquilo era o programa de governo da candidatura. Al�m disso, Roberto Jefferson aliou-se a Serra n�o por que comunga com o tucano ideias program�ticas. Pelo contr�rio: Jefferson criticou duramente Serra quando o tucano deu declara��es contra o "mercado". O apoio do PTB a Serra tem um �nico objetivo: facilitar a elei��o de deputados da legenda nas coliga��es regionais.

6. Eu n�o fa�o loteamentos de cargos
Serra vem repetindo esta lorota em v�rias ocasi�es. Mas o fato � que quase todas as institui��es, estatais e �rg�os p�blicos do governo de S�o Paulo s�o chefiados por correligion�rios ou pessoas indicadas pelos l�deres de partidos que governam o estado. As sub-prefeituras da cidade de S. Paulo, tanto na gest�o Serra quanto na gest�o Kassab, foram e s�o comandadas por apadrinhados pol�ticos. Aliados de Serra, como o presidente do PPS, Roberto Freire, mesmo n�o tendo nenhum v�nculo com SP, foram nomeados para conselhos de estatais paulistas. O neo-aliado Orestes Qu�rcia (PMDB) j� fez diversas indica��es para cargos de confian�a em SP na atual gest�o demo-tucana. Prefeitos de partidos que lhe fazem oposi��o dizem que Serra governa com mapa pol�tico nas m�os e com ele no governo os advers�rios passam a p�o e �gua. Verbas, conv�nios e obras s� para seus aliados. Ao insistir nesta afirma��o de que "n�o faz loteamento", o tucano menospreza a intelig�ncia do eleitor e provoca riso -e talvez alguma preocupa��o-- entre seus aliados, que sabem que alian�as s�o feitas apenas se as for�as pol�ticas participantes puderem compartilhar a administra��o p�blica do mandat�rio que ajudaram a eleger.

7. Eu n�o sou centralizador
Quem desmente o candidato s�o seus pr�prios correligion�rios. As se��es de bastidores de pol�tica dos principais jornais do pa�s trazem toda semana a reclama��o de algum aliado de Serra que protesta contra o modo centralizador como o candidato conduz a campanha. Chegaram a dizer que enquanto a campanha de Dilma � conduzida por um G7, a de Serra � conduzida por um G1, grupo formado por ele mesmo.

8. O �ndio da Costa estava entre os nomes que a gente cogitava
N�o h� nenhum analista pol�tico no pa�s que tenha coragem de confirmar esta afirma��o de Serra. Simplesmente porque ela � uma mentira deslavada. O nome de �ndio da Costa s� surgiu aos 45 minutos do segundo tempo, depois que uma dezena de outros nomes j� tinham sido descartados e uma crise grave estava instalada na campanha. O pr�prio Serra disse que n�o conhecia direito o vice escolhido pelo DEM.

9. Meu vice � jovem, ficha limpa, preparado
Em primeiro lugar, aos 40 anos a pessoa j� n�o � t�o jovem assim. Tanto que o deputado do DEM nunca se interessou por projetos ligados � juventude. Mas quanto a isso, sem problemas. O problema � dizer que �ndio da Costa � "ficha limpa". A verdade � que a "ficha" do apadrinhado de Cesar Maia tem algumas manchas bem encardidas. Ele foi um dos alvos da CPI na C�mara dos Vereadores do Rio que investigou superfaturamento e m�-qualidade nos alimentos comprados para a merenda escolar, quando ainda era vereador. Al�m disso, o deputado demista foi sim um dos que relataram o Projeto Ficha Limpa no in�cio, mas o relat�rio fundamental foi do deputado do PT-SP Jos� Eduardo Cardozo. Quando os tucanos tentam colocar na conta de �ndio da Costa a aprova��o do projeto Ficha Limpa apelam para o mesmo engodo que Serra aplica quando se diz o criador da Lei dos Gen�ricos. E, por fim, sobre o adjetivo "preparado", basta lembrar as trapalhadas e constrangimentos que �ndio da Costa causou � campanha tucana logo no in�cio para saber que � um elogio descabido.

10. Nunca o Brasil teve estradas t�o ruins
Mais uma vez Serra generaliza para tentar esconder as melhorias ocorridas nos �ltimos anos. Esta frase de Serra poderia caber durante o governo Fernando Henrique que investiu quase nada em estradas. O governo Lula n�o s� aumentou os investimentos, como promoveu a concess�o de algumas rodovias federais que agora recebem melhorias sem que para isso os usu�rios tenham que pagar elevadas tarifas de ped�gio. O canal de not�cias T1 (http://www.agenciat1.com.br) especializado em transportes, desmente o discurso tucano e fornece enorme quantidade de dados e informa��es que mostram que as rodovias federais melhoraram e n�o pioraram nos �ltimos anos.

11. A Fern�o Dias est� fechada
Serra deveria avisar isso aos milhares de motoristas que trafegavam pela Fern�o Dias no exato instante em que o tucano dizia tal mentira. Serra fez a firma��o como se a rodovia estivesse totalmente indispon�vel para o tr�fego. O fato � que apenas um pequeno trecho, na regi�o de Mairipor�, da rodovia que liga S�o Paulo a Minas Gerais est� em obras.

12. A Regis Bittencourt continua sendo a rodovia da morte
A Rodovia R�gis Bittencourt, que liga S�o Paulo a Curitiba, foi inclu�da, em 2008, no plano federal de concess�es. Desde ent�o, foram feitas diversas melhorias na via. Os 402 quil�metros da rodovia receberam melhorias no asfalto, nova sinaliza��o, muretas de prote��o e servi�o de atendimento ao motorista. � fato que os R$ 302 milh�es investidos at� agora n�o foram suficientes para acabar com a m� fama da R�gis, mas foi o governo Lula o primeiro a tomar a iniciativa de melhorar a estrada. No governo FHC, nada foi feito e, apesar da maior parte da rodovia estar em territ�rio paulista, os sucessivos governos tucanos em SP nunca propuseram parcerias com o governo federal e/ou munic�pios para ajudar na conserva��o da BR.

Serra ainda pretendia contar uma 13� lorota: a de que vai governar para os pobres e n�o para os ricos, mas n�o deu tempo.