22/09/2010
Bom Dia Brasil da TV Glogo entrevista presidenciável Dilma Rousseff (PT)
A candidata do PT à Presidência da República foi entrevistada, nesta terça-feira (21), no Bom Dia Brasil, pelos jornalistas Renato Machado, Renata Vasconcelos e Miriam Leitão.
O Bom Dia Brasil dá continuidade à série de entrevistas com os principais candidatos à presidência. O sorteio, acompanhado por assessores dos partidos, determinou, para hoje, a entrevista com a candidata do PT, Dilma Rousseff. Para não atrapalhar a agenda dos candidatos nesta reta final da campanha, o Bom Dia Brasil ofereceu a eles que a entrevista fosse gravada na noite anterior. Leia a entrevista gravada na terça-feira (21) à noite: Miriam - Ninguém tem dúvida do papel do BNDES, é importante. Mas assim... Dilma - Eu acho. Renata - Então, porque em oito anos de governo o presidente Lula e a senhora não fizeram a reforma tributária? Dilma - Olha, nós enviamos várias reformas ao Congresso. Há um problema seríssimo, eu acho que vocês também sabem disso, que é o fato que sempre que você quer fazer uma reforma tributária coloca-se em cima da mesa a questão dos recursos entre os estados, a União e os municípios. Tem muito estado que não quer perder. Então, há uma dificuldade de fazer a reforma, mas eu quero dizer que o governo Lula tentou e algumas nós fizemos. Eu vou dar exemplo: o Super Simples, a isenção para as micro e pequenas empresas, o micro empreendedor individual. E isso, inclusive, é responsável por um dos mecanismos muito importantes do ponto de vista econômico, que foi a formalização tanto do emprego como das empresas. Eu vou fazer uma reforma tributária porque eu acho que eu tenho de colocar isso como prioridade. Primeiro, porque se não reduzir imposto de investimento, o país não ganha em competitividade. Segundo, porque também tem de diminuir a distorção com a tributação que existe sobre a folha de salários. Terceiro, porque tem uma coisa gravíssima no Brasil que é você tributar o mesmo produto de forma diferenciada entre os estados da federação, permitindo que entre produtos baratos, importe-se produtos e que haja uma competição desleal com ramos da economia. 2ª parte Renato - A senhora trabalhou durante mais de sete anos com a ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra. Ela foi seu braço direito. A senhora nunca notou nenhuma irregularidade? Dilma - Eu, até hoje, nunca vi nenhuma prova e nenhuma ação inidônea da ex-ministra Erenice. Isso não significa que, em havendo denúncias, elas não tenham que ser apuradas. E eu acredito que ninguém está acima das suspeitas. Acho que tudo tem que ser apurado. Agora, eu não tenho, até hoje, nenhum conhecimento de um ato inidôneo da Erenice. Renata - Mas, candidata, houve demissão de, pelo menos, quatro pessoas, e o filho de Erenice Guerra trabalhava em órgãos da área de influência da Casa Civil. Parentes da ex-ministra ganharam cargos públicos. A senhora nunca reparou nada? Dilma - Olha, eu não, eu posso dizer, sim, com absoluta franqueza, eu nunca aceitei nem nomeação de parentes nem nomeação por critérios de amizade. Quem me conhece, eu tenho 25 anos de vida pública... Renata - Por que aconteceu, então? Dilma - Eu não tenho como responder por ela. Agora, acho que, até onde eu a conheci, ela era uma pessoa bastante idônea. E acho também que isso não significa que eu esteja defendendo a não apuração de responsabilidades. Eu acho que a maior interessada que se apure tudo sou eu. Eu quero que se apure qual é o nível de responsabilidade da ex-ministra Erenice em relação a esses fatos. Porque também resta ser provado que ela tem responsabilidades. É muito perigoso a gente ficar condenando as pessoas sem ter provas. Eu e a minha campanha, para vocês terem uma ideia, eu fiquei três meses sendo acusada, a minha campanha sendo acusada de ser responsável pela quebra de sigilo fiscal em um momento em que eu não era candidata, não era pré-candidata. Não tinha campanha, nem pré-campanha. A partir de agora, vo cês até noticiaram, apareceu o responsável. Então, eu acho que merece apuração. Eu não vou fazer pré-julgamento em relação a quem quer que seja. Acho que tudo tem que ser rigorosamente investigado. Doa a quem doer. Miriam - Ainda ficando nesse caso, a senhora inicialmente disse que era um caso, um factóide de um filho de uma ex-funcionária. Mas, depois o tempo foi passando e outras informações surgiram, e agora sabe-se que o caso envolve dois filhos, marido, irmão, sócio do filho. Assessores da Casa Civil, quatro foram demitidos até o momento. Eu queria saber o seguinte: é um factóide ou um caso que leva a quatro demissões, portanto um caso importante que envolve indícios claríssimos de nepotismo e outras coisas assim? Dilma - Sabe, Miriam, eu tenho a seguinte posição. A primeira denúncia dizia respeito ao filho da pessoa. Então, eu não posso ser responsabilizada pelo que faz o filho ou o parente de alguém. As respectivas pessoas envolvidas, elas vão ser objeto de uma investigação que inclusive foi pedida por nós, pela Polícia Federal. É fundamental que a gente tenha clareza antes de condenar. Faz parte da civilização a gente provar primeiro e julgar depois. Miriam - Ele já admitiu que recebeu R$ 120 mil. Dilma - Mas ele recebeu. Ele é culpado. Se ele admitiu que recebeu e se acha que aquilo é indevido, ele é culpado. Então, ele vai pagar por isso. Agora, daí a fazer qualquer relação com a minha campanha é que são outras... Quer dizer, são outros quinhentos. Porque a minha campanha não está envolvida com essa história. Renata - Candidata, vamos falar de outra reforma importante. A senhora concedeu uma entrevista em maio e disse que é preciso, na época, estender a terceira idade um pouco mais para lá. Os jornais interpretaram essa sua declaração como uma defesa de mudanças nas regras da aposentadoria. Em seguida, a senhora disse que a imprensa tinha entendido tudo errado. A senhora poderia, então, esclarecer pra gente. Quer dizer, é preciso uma ideia mínima para quem se aposenta ou aumentar o tempo de contribuição? Dilma - Infelizmente, nesse dia, eu fiz uma brincadeira comigo mesma. Eu disse: a terceira idade, cada dia ela se estende um pouco pra lá. Eu tenho 62 anos, Renata. Era sobre isso que eu estava dizendo. Renata - O que é muito bom, é uma boa notícia se estender um pouco mais para lá. Dilma - O que acontece: eu acho que nós temos uma grande vantagem no Brasil. Nós temos a chamada janela demográfica. Nessa janela demográfica, o Brasil hoje tem mais jovens em idade de trabalhar do que a chamada população dependente: crianças e idosos. Renata - Mas a população está envelhecendo. Dilma - Pois é, mas esse é um processo que é de médio... Não é de curto prazo. O Brasil ainda tem, nessa janela demográfica, o que se calcula é para além de 2025. Eu acho que hoje você não tem um quadro para justificar uma grande alteração na estrutura da área brasileira no que se refere aos mecanismos de aposentadoria. Aliás, se a gente for ver o déficit da Previdência, o que você vai notar? Você vai notar que toda contribuição urbana é superavitária. O que que é deficitária? Deficitária são as políticas que a constituinte e a Constituição previram no que se refere, por exemplo, à aposentadoria dos trabalhadores rurais que não tinham contribuição prévia. Isso não é problema, eu diria assim, previdenciário. Isso é um problema decorrente de uma política pública adotada pelo Brasil. Eu não resolvo essa questão mudando a idade da aposentadoria. Eu posso fazer o que eu quiser, mas tem uma parte da população que quem tem que assumir o ônus pela política pública de aposentar o trabalhador rural é o Tesouro Nacional. Míriam - Candidata, é o seguinte: saíram os dados agora do Pnad no IBGE, do saneamento. E eu estava com esperanças de ver um número melhor. Mas o número piorou. Caiu de 59,3% para 59,1% a cobertura de rede de esgoto, incluindo-se fossa séptica ligada à rede coletora, que é um número muito ruim. O Brasil tem tradicionalmente números muito ruins de saneamento. Por que é possível um número tão ruim? Como é possível que a gente chegou a esse número depois de sete anos do governo e dois anos do PAC? Dilma - Quatro. Eu vou tentar explicar por quê. Eu concordo contigo, eu acho que uma das coisas mais graves do Brasil é o fato de a gente não ter investido em saneamento. A proporção, os gastos com o saneamento nos períodos passados eram pífios, absolutamente pífios. Míriam - Nesse governo também. Dilma - Não, nós elevamos o saneamento em três vezes. Levamos investimento para o saneamento. Nós investimos, no PAC, perto de R$ 40 bilhões, R$ 39 bilhões. O problema é o seguinte: quem investe no PAC? Quem investe em saneamento? Me desculpa, Míriam. Quem investe em saneamento é basicamente prefeituras e estado; os estados brasileiros e as prefeituras. O Governo Federal o que fez? Porque o Governo Federal não fazia isso não. Nós colocamos dois recursos: um recurso que foi Orçamento Geral da União. Tiramos do Governo Federal e colocamos à disposição de prefeituras e estados. E financiamos também, coisa que muita gente acha que é algo tranquilo. Ou seja, quem está recebendo dinheiro é quem está sendo responsável. Não é. Você sabe perfeitamente que havia um controle ab soluto de financiamento no Brasil. Então, o que acontece? Os estados e as prefeituras levam em média 65 meses para concluir o processo de investimento entre fazer o projeto executivo, fazer o projeto básico, fazer a licença ambiental e contratar a obra. O processo de maturação das obras do PAC não é captado nessa Pnad. Ele vai ser captado na Pnad de 2011 e 2012, porque tem uma porção de obras em andamento. Isso vale para todos os estados da federação sem exceção: vale para Billings e Guarapiranga, vale para todas, por exemplo, vale para a Baixada. Renato - Candidata, desculpe, mais uma vez, eu interromper a senhora já no final da sua argumentação, mas estamos chegando ao fim do programa, e a senhora tem 30 segundos para fazer as suas considerações finais. Dilma - Eu concordo que tem muito o que fazer. Eu acredito que o Brasil hoje tem diante de si uma única oportunidade. Hoje, nós temos condição de seguir investindo no tratamento de água, no saneamento. Tem muita coisa para fazer, porque tem um processo longo do que não foi feito: fazer dois milhões de casas, construir seis mil creches, construir 500 UPAs. Mas sobretudo o que eu acho é que o Brasil achou seu rumo. Renata - Candidata, desculpe, eu vou ter que interrompê-la para que a gente possa fazer da mesma forma que fizemos com os outros candidatos. Dilma - Perfeito, eu te agradeço muito. E agradeço ao Renato e a Miriam pela oportunidade.
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