O governo brasileiro quer criar um programa para atrair imigrantes mais qualificados para o país. O secretário de Ações Estratégicas da Presidência da República, Ricardo Paes de Barros, está formando um grupo de especialistas para desenhar um pacote de incentivos à imigração de mão de obra qualificada, incluindo facilitação de vistos.
Atualmente, a entrada de mão de obra barata, latino-americana, cresce muito mais rapidamente. Mas existe um número crescente de profissionais com curso superior, "refugiados da crise europeia", em busca de oportunidades no Brasil.
O número de autorizações de trabalho para portugueses mais que duplicou entre 2010 e 2011 (comparando dados até setembro), subindo 108%. Para espanhóis e italianos, houve crescimento de 24,5%. A maioria dessas autorizações é concedida para profissionais que têm pelo menos nível superior. Outros estrangeiros vêm como expatriados, transferidos de suas empresas ou sócios.
É gente como a portuguesa Maria da Paz Tierno Lopes, 40, que chegou ao Brasil em maio do ano passado. Formada pela Universidade Lusíada em Lisboa, com mestrado pela americana Fordham University, Maria da Paz trabalhava em um grande escritório de Lisboa, o Cuatrecasas, Gonçalves Pereira. Foi convocada quando o escritório abriu filial no Brasil.
Perspectiva
"Com a crise, o volume de negócios em Portugal estava caindo", diz. "E as perspectivas de carreira no Brasil são bem melhores; em Portugal, há gente com mestrado que não consegue emprego."
Maria da Paz faz parte do grupo "Nova Geração de Patrícios no Brasil", que tem 1.241 integrantes no Facebook. "Todo dia chega gente nova ao país, os \'happy hours\' na Câmara Portuguesa reúnem 150 pessoas."
Martin Corullon, sócio da Metro Arquitetos, recebe de 8 a 12 currículos por dia de profissionais portugueses e espanhóis. "São superqualificados, dos 20 aos 30 e poucos anos."
Helion Póvoa Neto, professor do Núcleo de Estudos Migratórios da Universidade Federal do Rio de Janeiro, observa com ceticismo a tentativa do governo de atrair mão de obra qualificada. "O salto na imigração mostra a projeção econômica e política do Brasil", diz. "Mas é impossível o país querer atrair só imigrantes qualificados; a fronteira é enorme."
Paulo Sérgio Almeida, presidente do Conselho Nacional de Imigração, afirma que a entrada de mão de obra de baixa qualificação não é um problema. "Temos baixo desemprego, esses imigrantes preenchem parte do mercado que hoje não é possível suprir com brasileiros." (Fonte: Folha de S.Paulo)