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Segurança e Medicina do Trabalho
LER e DORT |
As LER (Lesões por Esforços Repetitivos) e o DORT (Distúrbio Osteomuscular Relacionadas com o Trabalho)
têm representado importante fração do conjunto dos adoecimentos relacionados com o trabalho. Acomete homens e mulheres
(inclusive adolescentes) em plena fase produtiva da vida.
Esta doença tem causado grande número de afastamentos do local de trabalho, sendo que a quase totalidade deles evoluem
para incapacidade parcial, e, em muitos casos, para a incapacidade permanente, com aposentadoria por invalidez.
São afecções decorrentes de problemas relacionados com aspectos organizacionais e ergonômicos do trabalho
existentes na atualidade, em que as tarefas são realizadas com movimentos repetitivos e/ou com posturas inadequadas e/ou trabalho
muscular estático prolongado, conteúdo pobre das tarefas, monotonia, sobrecarga mental, associadas à ausência de
controle sobre a execução das tarefas, ritmo intenso de trabalho, pressão por produção, relações
conflituosas com as chefias e estímulo à competitividade exacerbada. Vibração e frio intenso também estão
relacionados com o
surgimento de quadros de LER/DORT.
Caracteriza-se por um quadro de dor crônica, sensação de formigamento, dormência, fadiga muscular
(por alterações dos tendões, musculatura e nervos periféricos), dor muscular ou nas articulações.
É um processo de adoecimento insidioso, carregado de simbologias negativas sociais, e intenso sofrimento psíquico: incertezas,
medos, ansiedades e conflitos. Acomete trabalhadores inseridos nos mais diversos ramos de atividade, com destaque para aqueles que estão nas linhas de montagem, empresas
do setor financeiro, de autopeças, da alimentação, de serviços e de processamento de dados.
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PAIR |
O Comitê Nacional de Ruído e Conservação Auditiva, órgão interdisciplinar
composto por membros indicados pela Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT) e pelas
Sociedades brasileiras de Acústica (SObrAC), Fonoaudiologia (SBFa) e Otorrinolaringologia (SBORL) definiu e
caracterizou a perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR) relacionada ao trabalho, com o objetivo de apresentar o
posicionamento oficial da comunidade cientifica brasileira sobre o assunto.
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Definição
A perda auditiva induzida pelo ruído relacionada ao trabalho, diferentemente do trauma acústico, é uma
diminuição gradual da acuidade auditiva, decorrente da exposição continuada a
níveis elevados de ruído.
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Características Principais
1. A PAIR é sempre neurossensorial, em razão do dano causado às células do Órgão de Corti.
2. Uma vez instalada, a PAIR é irreversível e, quase sempre, similar bilateralmente.
3. Raramente leva à perda auditiva profunda pois, geralmente, não ultrapassa os 40 dB NA nas baixas freqüências e
os 75 dB NA nas freqüências altas.
4. Manifesta-se primeira e predominantemente nas freqüências de 6, 4 ou 3 kHz, as quais levam mais tempo para serem comprometidas.
5. Tratando-se de uma patologia coclear, o portador da PAIR pode apresentar intolerância a sons intensos, zumbidos,
além de ter comprometida a inteligibilidade da fala, em prejuízo do processo de comunicação.
6. Uma vez cessada a exposição ao ruído intenso não deverá haver progressão da PAIR.
7. A instalação da PAIR é influenciada principalmente pelos seguintes fatores: características físicas do
ruído (tipo, espectro e nível de pressão sonora), tempo de exposição e suscetibilidade individual.
8. A PAIR não torna o ouvido mais sensível a futuras exposições a ruídos intensos. Á
medida em que os limiares auditivos aumentam, a progressão da perda torna-se mais lenta.
9. A PAIR geralmente atinge o nível máximo para as freqüências de 3, 4, e 6kHz nos primeiros 10 a 15
anos de exposição, sob condições estáveis de ruído.
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SÍNDORME DE BURNOUT |
A chamada Síndrome de Burnout é definida por alguns autores como uma das conseqüências mais
marcantes do estresse profissional, e se caracteriza por exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo,
depressão e insensibilidade com relação a quase tudo e todos (até como defesa emocional).
O termo Burnout é uma composição de burn=queima e out=exterior, sugerindo assim que a pessoa com esse tipo
de estresse consome-se física e emocionalmente, passando a apresentar um comportamento agressivo e irritadiço.
Essa síndrome se refere a um tipo de estresse ocupacional e institucional com predileção para profissionais
que mantêm uma relação constante e direta com outras pessoas, principalmente quando esta atividade é considerada de ajuda .
Entretanto a Síndrome de Burnout é algo diferente do estresse genérico. O quadro de apatia extrema,
desinteresse e estresse, são suas conseqüências bastante sérias.
De fato, esta síndrome foi observada, originalmente, em profissões predominantemente relacionadas a um contacto
interpessoal mais exigente, tais como médicos, psicanalistas, carcereiros, assistentes sociais, comerciários,
professores, atendentes públicos, enfermeiros, funcionários de departamento pessoal, telemarketing e bombeiros.
Hoje, entretanto, as observações já se estendem a todos profissionais que interagem de forma ativa com pessoas,
que cuidam e/ou solucionam problemas de outras pessoas, que obedecem técnicas e métodos mais exigentes,
fazendo parte de organizações de trabalho submetidas à avaliações.
Definida como uma reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contato direto,
excessivo e estressante com o trabalho, essa doença faz com que a pessoa perca a maior parte do interesse em sua
relação com o trabalho, de forma que as coisas deixam de ter importância e qualquer esforço
pessoal passa a parecer inútil.
Entre os fatores aparentemente associados ao desenvolvimento da Síndrome de Burnout está a pouca autonomia no
desempenho profissional, problemas de relacionamento com as chefias, problemas de relacionamento com colegas ou clientes,
conflito entre trabalho e família, sentimento de desqualificação e falta de cooperação da equipe.
Os autores que defendem a Síndrome de Burnout como sendo diferente do estresse, alegam que esta doença envolve
atitudes e condutas negativas com relação aos usuários, clientes, organização e trabalho,
enquanto o estresse apareceria mais como um esgotamento pessoal com interferência na vida do sujeito e não necessariamente
na sua relação com o trabalho. Entretanto, pessoalmente, julgamos que essa Síndrome de
Burnout seria a conseqüência mais depressiva do estresse desencadeado pelo trabalho. |
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Evolução |
Em geral o curso da Síndrome de Burnout se caracteriza pelo seguinte:
1 - É insidioso. A evolução do quadro é paulatina e pouco a pouco os sintomas vão surgindo,
oscilando com intensidade variável.
2 - Há uma tendência em negá-la. O próprio paciente se nega a aceitar as diferenças que
os outros observam nele, portanto, a síndrome é notada primeiro pelos companheiros.
3 - Existe uma fase irreversível. Entre 5% e 10 % dos pacientes com essa síndrome adquire gravidade tal que resulta
irreversível se não deixar o trabalho. Esse grau mais grave predomina em profissionais médicos.
O quadro evolutivo tem 4 níveis de manifestação:
1o. nível - Falta de vontade, ânimo ou prazer de ir a trabalhar. Dores nas costas, pescoço e coluna.
Diante da pergunta o que você tem? normalmente a resposta é "não sei, não me sinto bem"
2o. nível - Começa a deteriorar o relacionamento com outros. Pode haver uma sensação de
perseguição ("todos estão contra mim"), aumenta o absenteísmo e a rotatividade de empregos.
3o. nível - Diminuição notável da capacidade ocupacional. Podem começar a
aparecer doenças psicossomáticas, tais como alergias, psoríase, picos de hipertensão, etc.
Nesta etapa se começa a automedicação, que no princípio tem efeito placebo mas, logo em seguida,
requer doses maiores. Neste nível tem se verificado também um aumento da ingestão alcoólica.
4o. nível - Esta etapa se caracteriza por alcoolismo, drogadicção, idéias ou tentativas de
suicídio, podem surgir doenças mais graves, tais como câncer, acidentes cardiovasculares, etc. Durante esta
etapa ou antes dela, nos períodos prévios, o ideal é afastar-se do trabalho.
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ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO |
E o que é assédio moral no trabalho?
É a exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras,
repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns
em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam condutas negativas,
relações desumanas e aéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinado(s),
desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a organização,
forçando-o a desistir do emprego.
Caracteriza-se pela degradação deliberada das condições de trabalho em que prevalecem atitudes e
condutas negativas dos chefes em relação a seus subordinados, constituindo uma experiência subjetiva que acarreta
prejuízos práticos e emocionais para o trabalhador e a organização. A vítima escolhida é isolada
do grupo sem explicações, passando a ser hostilizada, ridicularizada, inferiorizada, culpabilizada e desacreditada diante
dos pares. Estes, por medo do desemprego e a vergonha de serem também humilhados associado ao estímulo constante à
competitividade, rompem os laços afetivos com a vítima e, freqüentemente, reproduzem e reatualizam
ações e atos do agressor no ambiente de trabalho, instaurando o 'pacto da tolerância e do silêncio' no
coletivo, enquanto a vitima vai gradativamente se desestabilizando e fragilizando, 'perdendo' sua auto-estima.
O desabrochar do individualismo reafirma o perfil do 'novo' trabalhador: 'autônomo, flexível', capaz, competitivo,
criativo, agressivo, qualificado e empregável. Estas habilidades o qualificam para a demanda do mercado que procura a
excelência e saúde perfeita. Estar 'apto' significa responsabilizar os trabalhadores pela
formação/qualificação e culpabilizá-los pelo desemprego, aumento da pobreza urbana e miséria,
desfocando a realidade e impondo aos trabalhadores um sofrimento perverso.
A humilhação repetitiva e de longa duração interfere na vida do trabalhador e trabalhadora de modo direto,
comprometendo sua identidade, dignidade e relações afetivas e sociais, ocasionando graves danos à saúde
física e mental*, que podem evoluir para a incapacidade laborativa, desemprego ou mesmo a morte, constituindo um risco
invisível, porém concreto, nas relações e condições de trabalho.
A violência moral no trabalho constitui um fenômeno internacional segundo levantamento recente da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) com diversos paises desenvolvidos. A pesquisa aponta para distúrbios da saúde mental
relacionado com as condições de trabalho em países como Finlândia, Alemanha, Reino Unido, Polônia e
Estados Unidos. As perspectivas são sombrias para as duas próximas décadas, pois segundo a OIT e
Organização Mundial da Saúde, estas serão as décadas do 'mal estar na globalização",
onde predominará depressões, angustias e outros danos psíquicos, relacionados com as novas políticas de
gestão na organização de trabalho e que estão vinculadas as políticas neoliberais.
Estratégias do agressor
• Escolher a vítima e isolar do grupo.
• Impedir de se expressar e não explicar o porquê.
• Fragilizar, ridicularizar, inferiorizar, menosprezar em frente aos pares.
• Culpabilizar/responsabilizar publicamente, podendo os comentários de sua incapacidade invadir, inclusive, o espaço familiar.
• Desestabilizar emocional e profissionalmente. A vítima gradativamente vai perdendo
simultaneamente sua autoconfiança e o interesse pelo trabalho.
• Destruir a vítima (desencadeamento ou agravamento de doenças pré-existentes).
A destruição da vítima engloba vigilância acentuada e constante. A vítima se isola da família
e amigos, passando muitas vezes a usar drogas, principalmente o álcool.
• Livrar-se da vítima que são forçados/as a pedir demissão ou são demitidos/as,
freqüentemente, por insubordinação.
• Impor ao coletivo sua autoridade para aumentar a produtividade.
A explicitação do assédio moral
Gestos, condutas abusivas e constrangedoras, humilhar repetidamente, inferiorizar, amedrontar, menosprezar ou desprezar,
ironizar, difamar, ridicularizar, risinhos, suspiros, piadas jocosas relacionadas ao sexo, ser indiferente à
presença do/a outro/a, estigmatizar os/as adoecidos/as pelo e para o trabalho, colocá-los/as em
situações vexatórias, falar baixinho acerca da pessoa, olhar e não ver ou
ignorar sua presença, rir daquele/a que apresenta dificuldades, não cumprimentar, sugerir que
peçam demissão, dar tarefas sem sentido ou que jamais serão utilizadas ou mesmo irão para o
lixo, dar tarefas através de terceiros ou colocar em sua mesa sem avisar, controlar o tempo de idas ao banheiro,
tornar público algo íntimo do/a subordinado/a, não explicar a causa da perseguição, difamar, ridicularizar.
As manifestações do assédio segundo o sexo
Com as mulheres: os controles são diversificados e visam intimidar, submeter, proibir a fala, interditar a fisiologia,
controlando tempo e freqüência de permanência nos banheiros. Relaciona atestados médicos e faltas a
suspensão de cestas básicas ou promoções.
Com os homens: atingem a virilidade, preferencialmente.
Sintomas do assédio moral na saúde
Entrevistas realizadas com 870 homens e mulheres vítimas de opressão no ambiente profissional revelam como
cada sexo reage a essa situação (em porcentagem)
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Sintomas |
Mulheres |
Homens |
Crises de choro |
100 |
- |
Dores generalizadas |
80 |
80 |
Palpitações, tremores |
80 |
40 |
Sentimento de inutilidade |
72 |
40 |
Insônia ou sonolência excessiva |
69,6 |
63,6 |
Depressão |
60 |
70 |
Diminuição da libido |
60 |
15 |
Sede de vingança |
50 |
100 |
Aumento da pressão arterial |
40 |
51,6 |
Dor de cabeça |
40 |
33,2 |
Distúrbios digestivos |
40 |
15 |
Tonturas |
22,3 |
3,2 |
Idéia de suicídio |
16,2 |
100 |
Falta de apetite |
13,6 |
2,1 |
Falta de ar |
10 |
30 |
Passa a beber |
5 |
63 |
Tentativa de suicídio |
- |
- |
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O que a vítima deve fazer?
• Resistir: anotar com detalhes toda as humilhações sofrida (dia, mês, ano, hora, local ou setor,
nome do agressor, colegas que testemunharam, conteúdo da conversa e o que mais você achar necessário).
• Dar visibilidade, procurando a ajuda dos colegas, principalmente daqueles que testemunharam o fato ou que já sofreram
humilhações do agressor.
• Organizar. O apoio é fundamental dentro e fora da empresa.
• Evitar conversar com o agressor, sem testemunhas. Ir sempre com colega de trabalho ou representante sindical.
• Exigir por escrito, explicações do ato agressor e permanecer com cópia da carta enviada ao D.P. ou
R.H e da eventual resposta do agressor. Se possível mandar sua carta registrada, por correio, guardando o recibo.
• Procurar seu sindicato e relatar o acontecido para diretores e outras instancias como: médicos ou advogados do
sindicato assim como: Ministério Público, Justiça do Trabalho, Comissão de Direitos Humanos e
Conselho Regional de Medicina (ver Resolução do Conselho Federal de Medicina n.1488/98 sobre saúde do trabalhador).
• Recorrer ao Centro de Referencia em Saúde dos Trabalhadores e contar a humilhação sofrida ao
médico, assistente social ou psicólogo.
• Buscar apoio junto a familiares, amigos e colegas, pois o afeto e a solidariedade são fundamentais para
recuperação da auto-estima, dignidade, identidade e cidadania.
Importante
Se você é testemunha de cena(s) de humilhação no trabalho supere seu medo, seja solidário
com seu colega. Você poderá ser "a próxima vítima" e nesta hora o apoio dos seus colegas também
será precioso. Não esqueça que o medo reforça o poder do agressor!
Lembre-se
O assédio moral no trabalho não é um fato isolado, como vimos ele se baseia na repetição
ao longo do tempo de práticas vexatórias e constrangedoras, explicitando a degradação deliberada das
condições de trabalho num contexto de desemprego, dessindicalização e aumento da pobreza urbana.
A batalha para recuperar a dignidade, a identidade, o respeito no trabalho e a auto-estima, deve passar pela
organização de forma coletiva através dos representantes dos trabalhadores do seu sindicato, das CIPAS, das
organizações por local de trabalho (OLP), Comissões de Saúde e procura dos Centros de Referencia em
Saúde dos Trabalhadores (CRST e CEREST), Comissão de Direitos Humanos e dos Núcleos de Promoção de
Igualdade e oportunidades e de Combate a Discriminação em matéria de Emprego e Profissão que existem nas
Delegacias Regionais do Trabalho.
O basta à humilhação depende também da informação, organização e
mobilização dos trabalhadores. Um ambiente de trabalho saudável é uma conquista diária
possível na medida em que haja "vigilância constante" objetivando condições de trabalho dignas,
baseadas no respeito 'ao outro como legítimo outro', no incentivo a criatividade, na cooperação.
O combate de forma eficaz ao assédio moral no trabalho exige a formação de um coletivo multidisciplinar,
envolvendo diferentes atores sociais: sindicatos, advogados, médicos do trabalho e outros profissionais de saúde,
sociólogos, antropólogos e grupos de reflexão sobre o assédio moral. Estes são passos
iniciais para conquistarmos um ambiente de trabalho saneado de riscos e violências e que seja sinônimo de cidadania.
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